Os Árabes – Identidade e História.
Com os acontecimentos de 11 de setembro em 2001 e desde a ocupação americana no Afeganistão em 2002 e logo após a ocupação do Iraque em 2003 , os Americanos e Britânicos anunciaram uma guerra contra o que chamam de “Terrorismo Islâmico”, colocando os árabes no centro das atenções da mídia internacional. Desde então os meios de comunicação de todo o mundo iniciaram uma inundação de notícias, estudos e artigos sobre o mundo árabe e os muçulmanos, nos quais, em sua maioria, não havia credibilidade alguma, gerando preconceito quanto a tudo que é árabe e mulçumano.
Neste artigo esclareceremos de forma resumida a história árabe como nacionalismo, e a história islâmica como religião, para podermos responder as seguintes questões:
- Quem são os árabes?
- Quem são os muçulmanos?
- O Porquê da sobreposição dos termos “árabes” e “muçulmanos”?
Os árabes são um ramo dos povos semíticos que habitavam a península arábica, a qual compreende atualmente os países , Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein, Omã e Iêmen.
Considerando os estudos anteriores da história árabe, a questão mais difícil que opuseram a ambos os historiadores e pesquisadores ocidentais e árabes foi a escassez de vestígios históricos deixados devido a natureza de suas vidas, caracterizada pela instabilidade típica de nômades convivendo com as dificuldades próprias do deserto, areias e ventos. Marcos de civilização deixada para trás, ou que se supõe ter sido deixada, não puderam ser encontrados, por isto permanecem grandes e muitas lacunas na história árabe antiga , impossibilitando até os dias de hoje um esclarecimento maior, o que tem dificultado maiores avanços de historiadores e pesquisadores no estudo da história árabe antiga até o aparecimento do Islamismo no Golfo Árabe.
Mas a maioria dos historiadores remota a origem dos árabes a “Sem, filho de Noé” do qual descendem todos os povos semitas entre eles Abraão Al-Khalil e seu filho Ismael e sua descendência, incluindo o profeta dos muçulmanos, Maomé (Muhammad). Eles teriam habitado o Golfo árabe como grupos independentes uns dos outros, sendo atribuido a cada grupo pelo grau de parentesco o título de “Tribo” (Clã). A geografia e fatores naturais da península árabe exerceram grande impacto na formação das tribos árabes e no modo em que viviam e no modo que se relacionava com povos de outras civilizações.
Cientistas e Orientalistas estudaram a origem da palavra “Árabe” e seu significado nas línguas semíticas , em suas pesquisas nos escritos dos quais se desconhece a origem “do período pré islâmico” e em escritos Assírios, Babilônicos, Gregos e Romanos. O texto mais antigo que cita a palavra “Árabe” é dos escritos assírios dos dias do Rei Shalmanassur III , aparentemente a pronúncia “Arab” para eles significava “Principado” ou “Capitania” nos desertos que circundavam a assíria, e eram governados pelo emir que era considerado “Rei”. A palavra “Árabe” Também aparece nas escrituras da babilônia como “Matu Arabai”, o significado da palavra “Matu”, na língua babilônica era “Terra”, o que seria então, “Terra Árabe”. No livro de Behiston sobre “Dario” da persa, a palavra aparece como “Arabaya”, na versão persa escrito na língua conjectural, também aparece a pronúncia “arbaya” nos textos escritos pelo povo alsus (susiana), a língua de Elam, portanto a palavra “blad Alorub” ( País dos Árabes ) para Babilônios, Persas e Assírios fazia referencia à região do deserto a oeste do Rio Eufrates até os limites do Levante. O motivo que levou a região a esta denominação se deu ao fato dos árabes a habitarem e estavam em contato direto com essas civilizações pela proximidade geográfica com os Babilônicos, Assírios e Persas.
Enquanto isso os habitantes da península arábica viviam praticamente isolados devido às condições climáticas e a realidade do deserto, o que impediu que invasores avançassem por suas terras. Estes fatores também impediram as tribos árabes da península de manterem ligação mais forte com povos de outras civilizações.
O primeiro a citar os árabes entre os gregos foi Ésquilo 456-505 a.C., seguido pelo Heródoto 425 – 484 a. C., que denominou “Arabae” todos os grupos desde o Levante, Península Arábica, as terras situadas a leste do Rio Nilo e do deserto do Sinai, o que significa que incluiu todos os árabes, em seus diferentes dialetos, sobre a mesma denominação.
A região da Península Arábica Compreende praticamente a parte sul oriental do continente asiático, e se estende por uma vasta região onde predomina o deserto arenoso , sem rios ou fontes de água que podia ser escassa por anos em certas regiões. Com exceção da região sudoeste da península arábica, chamada atualmente de “Iêmen”e onde existem vales e oásis possibilitando o desenvolvimento fixo de algumas “tribos”, tais regiões receberam a denominação de “Hedrie”. Portanto para a maioria dos árabes antigos era impraticável viver de forma fixa e dedicar-se à agricultura, com isso o pastoreio nômade foi praticamente a única forma de sobrevivência, ainda assim suscetíveis às intempéries do deserto e nuvens de gafanhotos que os obrigavam a buscarem constantemente lugares onde havia melhor condições para criar seus escassos rebanhos. Todos estes fatores geográficos e climáticos levaram algumas tribos a emigrar para a região do Iraque e do Levante, demais tribos mantinham relações extremamente difíceis concorrendo por melhores regiões e pastagens, acabando por muitas vezes gerar sangrentos conflitos, invasões e saques. Tudo isto prejudicou o desenvolvimento econômico da região então frágil e primitiva, Prevalecendo assim a força dos laços tribais e a ausência de um governo político-social mais organizado, o que prejudicou o fortalecimento das relações entre a população dos que viviam na península arábica e outras civilizações e inclusive árabes em outras regiões, salvo algumas trocas comerciais com as terras de Damasco (Bilad Al Sham) que agora compreende a síria, Líbano, Jordânia e Palestina.
As manifestações religiosas das tribos da península baseavam-se praticamente na adoração de ídolos então presentes na “Caaba” que se supõe ter sido construída por Abraão (Ibrahim AL Khalil), além da disseminação de pequenas comunidades cristãs e judaicas pela península arábica, antes do aparecimento do Islamismo.
No ano de 610 d.c, aconteceu a virada histórica na vida dos árabes, ano em que o profeta Maomé (Muhammad) iniciou seu chamado ao islamismo e converteu os árabes a uma nova religião , que se espalhou rapidamente além dos limites da península arábica, para o Levante e o Iraque, região até então dominada pelo Império Bizantino, tornando Damasco a capital de todo o mundo Islâmico, e assim, aumentando mais tarde ainda mais suas conquistas para o ocidente e o oriente durante o califado dos Omíadas.
Em apenas um século a religião Islâmica se estendeu pela Península Ibérica, Norte da África e África Central, todo o Oriente Médio e Ásia Central, anunciando o surgimento de um Estado e uma Civilização Árabe-Islâmica, que compreendia muitos outros povos e nações não árabes.
Esta nova civilização foi capaz de alcançar significativas realizações que contribuíram definitivamente para o desenvolvimento humano em geral em variadas áreas da arte, filosofia, medicina, astronomia, matemática, física e navegação, além de prestar grandes serviços à humanidade como a preservação da cultura grega, romana e bizantina, conservando importantes escritos muitos deles traduzidos para a língua árabe, graças a isso não se perderam ou desapareceram para sempre, fato reconhecido por muitos historiadores e estudiosos ocidentais contemporâneos.
Também é fato marcante na história da civilização árabe islâmica a contribuição com a evolução da sociedade européia principalmente na Idade Média, quando o continente vivia na obscuridade do pensamento. Mas a permanência do governo árabe na Espanha que durou por volta de 800 anos, e tornou a região um centro de radiação científica, possibilitando alcançar realizações científicas e contemporâneas, sendo fator importantíssimo para desencadear o renascimento da Europa.
A prosperidade e coesão do Estado árabe e Islâmico não durariam muito, devido a fragmentação e sucessão de governos que ocasionou a perda do controle dos estados, e conseqüente enfraquecimento e desmoronamento, situação agravada pela invasão de Mongóis e Francos e posteriormente o domínio dos Otomanos que perdurou de 1514 a 1918, até a 1ª guerra mundial. A decadência deste império foi influenciada principalmente pela França e Inglaterra; Em 1920 esses mesmos dois países mais a Itália haviam ocupado e dividido os países árabes em pequenos estados. Após a II Guerra mundial, foi diminuída a influência da França e Inglaterra no mundo, em especial no oriente médio, e o surgimento de novas grandes potências, os EUA e a União Soviética, que ocasionou a independência dos estados árabes e sua divisão em 22 países, desde o golfo árabe até o Oceano atlântico.
Portanto, os árabes hoje são os cidadãos destes 22 países, que falam a mesma língua – o árabe – e são socialmente e culturalmente compatíveis, partilham o mesmo patrimônio histórico, cultural e as mesmas tradições, mas mantendo suas individualidades e tradições locais distintas. Mas os habitantes dos 22 países árabes não são necessariamente da mesma etnia árabe que nasceu na Península Arábica, e nem todos são muçulmano, existindo importantes grupos de Judeus e Cristãos árabes.
O arabismo é a afiliação de vários povos determinada pelo movimento de nacionalismo fortalecido por uma língua em comum e compatibilidades sociais e culturais que os une harmoniosamente, mesmo sendo de 22 países diferentes contendo grande diversidade de etnias.
Os muçulmanos são os seguidores do islamismo, independentemente de sua origem ou nacionalidade, portanto, ser árabe não significa necessariamente ser muçulmano, e ser muçulmano não significa necessariamente ser árabe. Alem disso, ser árabe não implica em abandonar a origem nacional patriótica, sendo possível ser árabe libanês, sírio ou egípcio etc.
Fonte de pesquisa:
http://www.arabesq.com.br/Principal/Cultura/
http://www.arabesq.com.br/Principal/Cultura/
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